É impossível ter certeza absoluta sobre o que é o existencialismo.
Seus principais pensadores discordaram sobre seus princípios, e muitos deles negaram ser existencialistas.
Entre as poucas exceções estão os dois mais famosos, Sartre e sua companheira Simone de Beauvoir, que aceitaram o rótulo justamente porque se cansaram de dizer às pessoas para não chamá-los assim.
Hoje, as idéias existencialistas sobre liberdade tornaram-se parte da cultura popular. Assim, mal nos lembramos de quão escandalosas elas eram algumas décadas atrás.
Contudo, estou convencido de que o existencialismo deve ser visto como mais do que uma moda passageira, e que ainda tem algo concreto a nos oferecer.
O que é Existencialismo?

O existencialismo é uma filosofia que enfatiza a existência individual, a liberdade e a escolha.
Segundo seus fundamentos, os indivíduos são livres e responsáveis por definir o seu próprio significado.
Nesse sentido, a capacidade de agir é o único meio de superar uma condição essencialmente absurda da humanidade, caracterizada pelo sofrimento inevitável.
Além disso, o existencialismo afirma que a existência humana acontece sem qualquer tipo de propósito ou explicação maior.
Se Deus não existe, então o único modo de preencher o vazio da vida é por abraçar a própria existência, e fazer dela uma “boa limonada”.
Assim, o existencialismo parte do pressuposto de que os indivíduos são livres, e devem assumir a responsabilidade pessoal por sua própria existência.
Existencialismo e Niilismo.

Em resumo, o principal argumento do Niilismo é que a existência humana é desprovida de qualquer significado objetivo.
Portanto, não existem verdades nem ações preferíveis: somos livres para agir conforme decidirmos.
Embora tenha muito em comum com o niilismo, o existencialismo está mais próximo de uma reação contra as filosofias tradicionais, como o racionalismo, o empirismo e o positivismo.
Tais filosofias, ao contrário do existencialismo, buscam descobrir um significado universal, um padrão racional na estrutura do mundo observado.
Contudo, o a filosofia existencialista argumenta que as decisões humanas são irracionais, e acontecem de acordo com o significado individual dado por cada um a sua própria vida.
Origem e Principais Autores.

Os temas abordados pelo existencialismo apareceram pela primeira vez nos escritos budistas e cristãos (incluindo os de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino).
No século XVII, Blaise Pascal sugeriu que, sem um Deus, a vida perderia seu sentido, e seria assim chata e miserável. Essa seria, então, uma razão para a existência de Deus.
Seu quase contemporâneo, John Locke, defendia temas existencialistas como a autonomia individual e a autodeterminação.
Contudo, o objetivo de Locke era buscar ideais iluministas (como o liberalismo e o individualismo), e não uma experiência de vida existencialista.
O existencialismo como o conhecemos hoje se originou no século XIX, com os pensadores Søren Kierkegaard e Friedrich Nietzsche – embora nenhum deles tenha usado o termo em seu trabalho.
Nas décadas de 1940 e 1950, existencialistas franceses como Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Simone de Beauvoir escreveram obras acadêmicas e ficcionais que popularizaram temas existenciais, como:
- Pavor;
- Tédio;
- Alienação;
- Liberdade;
- Compromisso;
- O Nada.
Kierkegaard e Nietzsche.

Assim como Pascal, Kierkegaard e Nietzsche estavam interessados em pensar sobre a falta de sentido da vida e sobre o uso da diversão para escapar do tédio.
No entanto, ao contrário de Pascal, Nietzsche e Kierkegaard consideravam a liberdade de escolha como uma etapa fundamental para o indivíduo assumir as rédeas da própria vida, e assim assumir a responsabilidade sobre a sua própria identidade.
Para Kierkegaard, isso resulta no “cavaleiro da fé“, que deposita fé completa em si mesmo e em Deus, conforme descrito em sua obra de 1843, “Temor e tremor“.
Nietzsche, por sua vez, criou o conceito do Übermensch (ou “super-homem”): um estado de superioridade e transcendência atingido sem recorrer ao cristianismo.
Esse conceito está descrito em seus livros “Assim Falou Zaratustra” e “Além do Bem e do Mal“ .
Existencialismo Moderno.

O existencialismo atingiu a maioridade em meados do século XX, principalmente através das obras acadêmicas e ficcionais dos existencialistas franceses Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Simone de Beauvoir.
Maurice Merleau-Ponty (1908 – 1961) foi outro existencialista francês influente e muitas vezes esquecido da época.
Sartre é talvez o mais conhecido, e também um dos poucos que realmente aceitou ser chamado de “existencialista“.
O seu trabalho mais importante é “O Ser e O Nada“, mas foram seus romances e peças de teatro, como “A Nausea”, que ajudaram a popularizar suas ideias existencialistas.
Em “O Mito de Sísifo“, Albert Camus usa a analogia do mito grego de Sísifo para exemplificar a inutilidade da existência.
Sísifo foi é condenado a rolar uma pedra por uma colina por toda a eternidade. Mas Camus mostra que ele finalmente encontra significado e propósito em sua tarefa por dedicar-se continuamente a ela.
Simone de Beauvoir, que foi casada com Sartre por muito tempo, escreveu sobre ética feminista e existencial em suas obras, como “O Segundo Sexo“.
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