Modernidade Líquida: 7 Contradições Modernas Apontadas por Bauman
“Interrupção, incoerência e surpresa são as condições comuns de nossa vida”.
Com essa frase, Zygmunt Bauman começa o prefácio do seu livro mais famoso, “Modernidade Líquida”.
Além disso, Bauman continua: “Não podemos mais tolerar o que dura. Não sabemos mais fazer com que o tédio dê frutos.”
Logo abaixo, você vai conferir 7 contradições trágicas descritas no livro Modernidade Líquida.
Ao fim do artigo, deixe seu comentário: ele é muito importante para que eu produza os próximos artigos cada vez melhores.
1. Modernidade Líquida: A Primeira Contradição.

Na modernidade líquida, a sociedade que vivemos deixou de questionar.
É um tipo de sociedade que não reconhece para si qualquer alternativa, e, portanto, sente-se absolvida do dever de examinar.
Contudo, isso não significa que tenhamos suprimido o pensamento crítico como tal – ele ainda existe.
De fato, continuamos a ser seres reflexivos. Por isso, olhamos de perto cada movimento que fazemos, e raramente estamos satisfeito com nossos resultados.
De alguma maneira, porém, essa crítica não vai longe o suficiente para alcançar os complexos mecanismos que conectam nossos movimentos com seus resultados.
Assim, nossa crítica é desdentada, incapaz de afetar nossas próprias escolhas.
Se por um lado o homem moderno acredita possuir liberdade ilimitada, por outro lado ele é limitado pela insignificância da escolha.
2. Duas Distopias, Um Resultado.

Apenas 60 anos atrás as narrativas distópicas descritas em Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley) e 1984 (George Orwell) descreviam diferentes tipos de horrores que se tornariam realidade no futuro próximo.
A disputa era legítima e honesta, mas os mundos retratados pelos dois eram tão diferentes quanto água e vinho tinto.
Nesse sentido, Orwell descrevia uma sociedade miserável, dominada pela escassez e pela necessidade. Dessa forma, os habitantes desse mundo eram tristes e assustados.
Por outro lado, Huxley imaginava um futuro de abundância e saciedade. Assim, os personagens da narrativa eram despreocupados e alegres.
Os dois mundos se opunham em quase todos os detalhes. Menos em um.
Orwell e Huxley jamais discordaram quanto ao destino do mundo. Em ambos os pesadelos, homens e mulheres não controlavam suas próprias vidas, mas sim se contentavam em viver uma ilusão mentirosa.
O pressentimento de que o futuro seria um lugar estritamente controlado unia as duas visões. No futuro, as pessoas seriam treinadas a obedecer ordens e seguir rotinas estabelecidas, manipuladas como marionetes por um poder maior invisível.
Então, a liberdade individual seria reduzida a nada.
Desse modo, Orwell e Huxley apenas enxergavam caminhos diferentes que nos levariam ao mesmo lugar, caso a sociedade continuasse suficientemente ignorante.
Décadas atrás, eles já imaginavam a modernidade líquida.
Será que estavam certos?
Agora, aqui, veja, é preciso correr o máximo que você puder para permanecer no mesmo lugar. Se quiser ir a algum outro lugar, deve correr pelo menos duas vezes mais depressa do que isso! – Lewis Carrol.
3. Capitalismo Pesado, Fordismo e Comunismo.

Ao contrário da atual modernidade líquida, o começo do século passado poderia ser definido por uma só palavra: ordem.
Segundo Bauman, o capitalismo pesado era monótono, repetitivo e previsível. Nesse sentido, o fordismo era uma forma de engenharia social orientada pela ordem.
Esse o modelo capitalista de regulação era responsável por separar os aspectos manual e intelectual do trabalho, com o objetivo explícito de controlar os trabalhadores.
Assim, a corrente invisível que prendia os trabalhadores a seus lugares e impedia sua mobilidade era o coração do fordismo.
Dessa forma, por pelo menos 200 anos as ideias dos administradores de empresas capitalistas dominaram o mundo. Para Karl Marx, as ideias das classes dominantes tendiam a ser também as ideias dominantes na sociedade.
O comunismo, afinal, desejava apenas limpar o modelo fordista de suas poluições malignas, geradas pelo caos do mercado. Nas palavras de Lênin, a visão do socialismo seria efetivada se os comunistas conseguissem “combinar o poder soviético e a organização administrativa soviética com o último progresso do capitalismo”.
Em outras palavras, a intenção comunista era que o capitalismo transbordasse para fora dos muros das fábricas, para assim penetrar e saturar a vida social como um todo.
Dentro do capitalismo pesado, o capital estava tão fixado ao solo quando os trabalhadores que ele empregava.
Por outro lado, hoje o capital viaja leve pela modernidade líquida. Usa apenas uma bagagem de mão, smartphone e cartão de crédito.
O trabalho, porém, permanece tão imobilizado quanto no passado.
4. O Doce Sabor Amargo da Modernidade.

O capitalismo leve representa a modernidade líquida.
Nele, as possibilidades são infinitas, assim como as oportunidades perdidas.
Nesse sentido, há mais alternativas disponíveis que qualquer vida individual seja capaz de experimentar, por mais longa que seja.
Agora, a liberdade e a responsabilidade da escolha foi jogada nas costas do indivíduo. E, embora pareça inofensivo, esse é um fardo difícil de ser carregado.
Viver num mundo repleto de oportunidades é uma experiência divertida: poucas coisas são predeterminadas, e menos ainda irrevogáveis.
Assim, a “modernidade líquida” é fluída porque as possibilidades não podem voltar a ser sólidas, elas precisam continuar a ser infinitas.
Então, melhor que as coisas permaneçam assim: com data de validade; caso contrário poderiam excluir as oportunidades remanescentes de embarcar numa nova aventura.
Viver em meio a essas chances tem o gosto doce da liberdade de “tornar-se quem desejar ser“. Porém, essa doce liberdade deixa um sabor amargo no final.
Isso porque a liberdade de “tornar-se” sugere que nada está acabado e temos tudo pela frente. Assim, estar sempre incompleto é um estado cheio de riscos e ansiedade.
Você não é mais você, mesmo que tenha se tornado alguém.
5. Modernidade Líquida, Rotina e Liberdade.

Na modernidade líquida, o indivíduo se submete à sociedade – e essa submissão é a condição da sua libertação.
Para o homem moderno, liberdade significa não estar sujeito à ação de forças cegas. Ao colocar-se sob a proteção das asas da sociedade, ele se torna dependente dela. Mas essa é uma dependência libertadora.
O resultado da rebelião contra as suas normas causaria um estado de constante incerteza, e faria da vida um verdadeiro inferno.
Padrões e rotinas impostos por pressões sociais nos poupam da agonia de uma vida desregrada. Graças a essa monotonia, sabemos como proceder na maior parte do tempo.
A rotina pode apequenar, mas também pode proteger.
Por outro lado, aquela situações sem qualquer sinalização sobre como proceder, quando desconhecemos quais os riscos das nossas decisões e suas consequências – essas situações são um verdadeiro tormento para a maioria.
Imaginar uma vida de impulsos momentâneos, de ações de curto prazo, destituída de rotinas sustentáveis, uma vida sem hábitos, é imaginar, de fato, uma existência sem sentido.
Contudo, a modernidade líquida vem desconstruindo a rotina através da tecnologia.
A vida ainda não atingiu os extremos que a fariam sem sentido, mas muito dano já foi causado. E, infelizmente, aquilo que foi separado já não pode mais ser colado novamente.
Presenciamos o fim do ser humano como um ser social?
6. Vamos às Compras.

Na modernidade líquida é possível comprar mais que comida, sapatos, automóveis e imóveis.
Aqui, a busca ávida por novos exemplos aperfeiçoados de “receitas de vida” também está a venda. Nesse sentido, existem várias áreas da vida em que precisamos ser mais competentes. E cada uma delas requer uma compra.
Dentre as categorias de compra estão:
- Profissões, junto com o pacote de habilidades necessárias para manter o nosso sustento;
- Habilidades de comunicação, para convencer os possíveis empregadores de quem somos;
- Roupas, vocabulário e estilo de vida para garantir a imagem exterior correta;
- Fórmulas para extrair satisfação do amor e ao mesmo tempo evitar a dependência do parceiro amado;
- Investimentos para guardar dinheiro para o futuro incerto;
- Linhas de crédito para gastar dinheiro antes de ganhá-lo.
A lista de compras não tem fim.
Porém, por mais longa que seja a lista, a opção “não ir às compras” não existe. Isso porque o consumo de hoje não diz mais respeito à satisfação das necessidades, mas sim à satisfação do desejo.
O desejo, por sua vez, é um capricho que tem a si mesmo como único objetivo, e acaba assim que é alcançado. O desejo está fadado a ser insaciável. Dessa forma, o indivíduo encontrou nas compras uma forma de expressar a si mesmo.
Contudo, recentemente o desejo foi substituído por um sentimento ainda mais superficial.
Artigo em Construção, dia 29/04 (amanhã) estará completo!
7. O Substituto do Desejo.

Na modernidade líquida, a quantidade de ofertas se tornou muito maior que a capacidade de consumo.
Por isso, o capitalismo leve precisava de um estimulante ainda mais poderoso para manter a demanda do consumidor tão alta quanto o nível da intensidade das ofertas.
Nesse sentido, o “querer” era o substituto perfeito e necessário para o “desejar“.
Enquanto o desejo se fundava na comparação, vaidade, inveja e a “necessidade de auto-aprovação”, nada está por baixo do imediatismo do querer.
A partir de então, a compra é casual, inesperada e espontânea.
Ela tem uma qualidade de sonho tanto ao expressar quanto ao realizar um querer, que, como todos os quereres, é pouco sincero e infantil.
Leia também:
Amor Líquido: 7 Contradições dos Relacionamentos Modernos
Modernidade Líquida.

Esse artigo é um breve resumo dos primeiros capítulos do livro Modernidade Líquida, do sociólogo Zygmunt Bauman.
Sua leitura é simples, mas suas ideias são profundas o suficiente para transformar por completo sua forma de enxergar o mundo moderno.
Por isso, recomendo sua leitura.
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Obrigado pelo apoio Maina!
Gracias por la lectura, la leí en portugués y fue muy valiosa. Yo estaba necesitando está visión
Gracias! =D
Venho numa jornada de conhecimento intensa, procurando aprimorar meu senso crítico, adorei o artigo e certamente lerei as obras do Bauman.
O pensamento de Zygmunt Bauman é atual, e entender oq ele diz faz toda a diferença na forma como enxergamos o dia-a-dia moderno.
Boa jornada!
Gostei bastante do texto e com certezanirei aprender mais com esse autor!! Gratidão!!
Bauman vai libertar sua mente!